Tensão de fim de ano
Por Rosemeire Zago
18/11/2009
Com a aproximação do fim de ano, as festas chegando, há a sensação de que não se
realizou tudo o que queria: são dívidas a serem quitadas, projetos a serem
concluídos, conflitos a serem solucionados, pessoas a serem perdoadas, mudanças
a serem efetivadas, casamentos a serem feitos e outros desfeitos, palavras a
serem ditas; enfim, os desejos e as cobranças, principalmente as internas, se
fazem presentes, tendo como prazo o final do ano. A esse leque de cobranças,
somam-se ainda os múltiplos compromissos típicos do final de ano: compras, com
quem e onde passar as festas, presentes, viagens, férias, etc. Todos parecem
correr contra o relógio, pois o tempo parece estar cada vez mais escasso e de
repente, as pessoas pensam que podem abraçar o mundo, quando muitas vezes não
conseguem abraçar a si próprias.
Querem achar todas as soluções, resolver tudo o que ficou pendente, retomar
planos inacabados, concluir tudo aquilo que sequer começaram, ou ainda, já
começam a se preocupar com as metas para o ano que vai começar. A isso tudo,
soma-se ainda a ansiedade, preocupação, cansaço e estresse devido a problemas
rotineiros, e a sobrecarga se torna inevitável, gerando irritação, insatisfação,
enfim, uma angústia insuportável, onde geralmente a origem é creditada aos
fatores externos. Mas será?
Como nem sempre as pessoas conseguem, ou sequer refletem sobre os conflitos
internos, passam a se preocupar apenas com os fatores externos, como os
presentes a serem comprados, a comida a ser feita, armários a serem arrumados,
viagens a serem realizadas, e a reflexão fica em segundo plano, como se pensar
fosse sinônimo de dor.
A proximidade do Natal com todo o seu simbolismo parece por si só mobilizar as
emoções, alterando nossa afetividade e deixando-nos muitas vezes tristes. As
decepções e frustrações parecem cada dia nos atingir mais. Muitos, como sentem
dificuldade em identificar e lidar com o que sentem, acabam se sobrecarregando
de atividades, como que para não pensar e sentir. Acumulamo-nos de compromissos
não só porque é preciso realizá-los; queremos mais tempo, não só porque ele se
vai rapidamente, mas principalmente para não entrarmos em contato com nossa
realidade interna. Como defesa, buscamos inconscientemente fugir do encontro com
os próprios sentimentos como forma de garantir menos sofrimento. Mas fugir de
nada adianta.
Refletir sobre o que sentimos pode até causar dor, mas é preciso lembrar que
fugir não diminui essa dor, apenas não nos torna conscientes que ela existe, e
só refletindo sobre o que sentimos é que podemos fazer com que pare de doer.
Precisamos nos lembrar que não somos máquinas onde ligamos e desligamos botões e
esses obedecem aos novos comandos imediatamente. E que bom que somos seres
humanos! Seres humanos livres para pensar, sentir, fazer novas escolhas, amar,
viver!
Quando o final do ano se aproxima nos sobrecarregamos com cobranças como se
quiséssemos compensar o tempo perdido. Nessa ânsia para que tudo se realize,
surgem as insatisfações. Ao que você atribui o que está sentindo? Que tal
refletir sobre as possíveis causas de seus sentimentos? Será que irá passar as
festas com quem realmente deseja? E sua vida, está sendo conduzida da forma que
realmente gostaria? Escreva sobre o que sente, isso poderá ajudá-lo a entender a
origem de seus sentimentos. Agindo com consciência diminuirá sua necessidade de
buscar fora, pois saberá que pode contar com o que há dentro de você, e isso
fará muita diferença! Pare de correr contra o tempo, já não basta a correria
diária? Você deve estar em paz consigo mesmo, e para isso não é preciso correr
contra tempo, mas sim parar de se cobrar perfeição, afinal, quem é perfeito?
Pare imediatamente de se criticar vendo em você somente defeitos. Será mesmo que
não há nada de belo em você? Pare de fugir do espelho e se olhe com atenção, sem
querer encontrar algo para criticar. Olhe com olhos de quem ama. Sabe como é
aquele olhar que transmite acima de tudo compreensão e amor? Será que é possível
você se olhar assim? Olhe realmente para o que há de melhor em você, e irá
descobrir que você é um ser divino, que merece carinho, atenção, respeito e
muito, muito amor! O melhor sempre é olhar-se internamente, assumindo sua
realidade e identificando cada sentimento que há dentro de você.
A verdadeira sabedoria não é acumular informações e conhecimentos, mas colocar
cada uma delas em prática. O que resolve, por exemplo, ser um profissional
competente, responsável, se não percebe a hora de ir mais devagar, dar mais
atenção as pessoas que ama? É importante definir prioridades para não se
sobrecarregar. Mesmo cansado, as justificativas sempre são de que não se tem
tempo para descansar, viajar. Mas eu pergunto: se houver um infarto e tiver que
ficar 15 dias em uma UTI haverá tempo disponível? Com certeza. Mas se podemos
evitar mais sofrimento com pequenas alterações na rotina diária, porque adiar
para depois? Será que não poderá ser tarde demais?
Pense em tudo isso e reflita um pouco mais sobre sua vida. Afinal, todos nós
temos nossos próprios limites e pode ser muito mais sábio cada um respeitar os
seus, parar e refletir. E para isso, não é preciso esperar o próximo ano
começar!
Rosemeire Zago é psicóloga clínica, com abordagem junguiana e especialização em
Psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento através de técnicas de
relaxamento, interpretação de sonhos, importância das coincidências
significativas, mensagens e sinais na vida de cada um, promovendo também o
reencontro com a criança interior. Email: r.zago@uol.com.br