Síndrome do Pânico
Por Ana Lúcia Pereira
15/02/2007

O Transtorno do Pânico é um distúrbio caracterizado pela ocorrência de freqüentes e inesperadas crises de pânico, que duram minutos e costumam ser inesperadas, podendo surpreender o paciente em ocasiões diversas.

O indivíduo se assusta muito com a primeira crise, em função das sensações físicas que esta provoca: alteração nos batimentos cardíacos, sensação de perda de equilíbrio, tontura, falta de ar, palpitações e tremores.

A partir deste susto inicial, tem início um processo de medo e ansiedade que aumenta com a ocorrência das crises seguintes, chegando a tal intensidade que a pessoa se sente em estado de pânico.

Alguns pacientes apresentam o Transtorno do Pânico acompanhado de Agorafobia (estado de ansiedade relacionado a estar em locais ou situações onde escapar ou obter ajuda pode ser difícil no caso de um ataque de pânico, como por exemplo: estar sozinho em casa, andar no meio de uma multidão, dirigir ou andar de carro, andar de metrô ou ônibus, usar elevador, etc.).

O desenvolvimento do transtorno do pânico com agorafobia está relacionado com a ocorrência da crise de pânico após uma situação específica.

Imaginemos por exemplo que um indivíduo que chamaremos de M. teve uma crise de pânico enquanto fazia compras em uma grande loja de departamentos. Após esse evento M. relacionou os sintomas desagradáveis que vivenciou com ambientes fechados e cheios de gente, desenvolvendo um intenso medo de locais com essas características e passando a evitá-los. Gradativamente o nível de ansiedade e o medo de uma nova crise atingiram proporções tais que M. se tornou incapaz não só de freqüentar lojas de departamento como de sair de casa. Neste estágio, M. poderia ser diagnosticado como portador de transtorno do pânico com agorafobia.

Com o que não deve ser confundida

1. Com a transtorno de ansiedade generalizada, pois embora os pacientes que sofrem de transtorno do pânico experimentem estados de ansiedade prolongada entre uma crise e outra, os portadores de ansiedade generaliza não apresentam crises de pânico e sim estados permanentes e prolongados de desconforto ansioso;

2. Com a fobia social, pois embora esses pacientes evitem situações sociais e experimentem ansiedade e alguns outros sintomas do transtorno do pânico, seu isolamento social é motivado pelo medo de expor-se a situações humilhantes e não pelo receio de crises de pânico;

3. Com o pânico provocado por alterações químicas que drogas (cocaína, maconha, crack, ecstasy, etc.) ou alguns medicamentos usados em dietas de emagrecimento como (anfetaminas) podem provocar.

Sintomas

O portador de Transtorno do Pânico apresente, durante as crises, quatro ou mais dos sintomas abaixo relacionados:

Boca seca e perda do foco visual;

Calafrios ou ondas de calor;

Despersonalização ou sensação de irrealidade;

Dor no tórax;

Formigamentos;

Fraqueza nas pernas;

Medo de desmaiar;

Medo de morrer;

Medo de perder o controle ou de "enlouquecer";

Náusea ou desconforto abdominal;

Palpitações;

Sensação de pressão na cabeça;

Sensações de falta de ar ou asfixia;

Sudorese;

Taquicardia;

Tonturas ou vertigens;

Tremores.

Existem outros sintomas que, embora não estejam relacionados as crises de pânico, muitas vezes fazem passam a fazer parte da rotina do portador de Transtorno do Pânico:

Diarréias intensas em determinadas situações;

Sintomas de Labirintite;

Pensamentos recorrentes de que podem ter doenças graves ou as doenças dos outros (ainda que exames médicos não indiquem nada);

Pensamentos recorrentes de que podem fazer mal a si mesmos ou a outras pessoas;

Medo de voltar a sentir medo ou ansiedade antecipatória (viver na expectativa constante de ter uma nova crise).

Exemplo Ilustrativo

Descrição típica de uma crise de pânico:

“Lembro de estar caminhando na rua. A luz brilhava e subitamente tudo à minha volta pareceu-me estranho, come se eu estivesse em um sonho. Senti o pânico crescendo dentro de mim, mas consegui afastá-lo e prossegui. Caminhei mais ou menos meio quilômetro, com o pânico crescendo a cada minuto... Agora, eu estava suando, ainda tremendo; meu coração palpitava e minhas pernas pareciam gelatina... Apavorada, parei, sem saber o que fazer. O pouquinho de sanidade que me restava disse-me para ir embora. De algum modo, fiz isso lentamente, segurando-me nas cercas ao longo do caminho. Não consigo lembrar realmente do percurso de volta, até o momento de entrar em minha casa, quando então desabei e chorei sem parar... Não saí novamente por alguns dias. Quando novamente saí, foi com minha mãe e meu bebê. Fomos à casa de minha avó, alguns quilômetros adiante. Lá, senti pânico e não conseguia lidar com o bebê. Minha prima sugeriu que fôssemos à casa de minha tia, mas lá tive outro ataque e me veio a certeza de que estava morrendo. Depois disto, senti-me totalmente incapaz de sair à rua sozinha, e mesmo com outra pessoa isto era muito difícil. Eu não apenas tinha crises da pânico e fraqueza, mas vivia com o medo constante de sentir isto novamente.” (Melville, 1977, pp. 1, 14)

Tratamento

Os resultados mais eficazes tem sido observados quando o psicólogo trabalha em parceria com o psiquiatra, o que possibilita a combinação de psicoterapia com tratamento medicamentoso, visando o melhor benefício do paciente, o trabalho multidisciplinar é aconselhável. Os tratamentos do Transtorno do Pânico considerados mais eficientes atualmente trabalham com foco em alguns objetivos:

Ensinar o paciente a reconhecer e controlar os sintomas das crises de pânico, utilizando como recursos o tratamento medicamentoso aliado a técnicas comportamentais como: controle da respiração, dessensibilização sistemática das situações que causam ansiedade ao paciente, técnicas de relaxamento;

Trabalhar para que o paciente consiga reconhecer e manejar as sensações corporais relacionadas as crises de pânico e a ansiedade antecipatória, por meio de exercícios com atenção focada nessas sensações;

Ajudar o paciente a mudar suas atitudes, por meio da mudança de pensamentos e crenças irracionais, de forma a ver os problemas com maior objetividade, deixando-os, dessa forma, mais fáceis de serem resolvidos;

Ajudar o paciente a caminhar na compreensão das causas e origens do pânico, pois esta compreensão é terapêutica, tranqüilizadora e beneficia as demais etapas do tratamento;

A indicação de esportes, caminhadas ou outro tipo de exercício físico podem auxiliar no tratamento, pois os exercícios físicos liberam endorfinas (antidepressivos naturais) que aumentam o bem estar do paciente e deixam mais disposto para o tratamento.

o O transtorno do pânico com ou sem agorafobia pode ter um impacto tão grande na vida cotidiana do portador quanto outras doenças graves, por isso é urgente a realização do diagnóstico e o início do tratamento;

o Um passo importante para o início do tratamento do Transtorno do Pânico é conscientizar o paciente de que seu problema é emocional e que tem tratamento, e a colaboração da família e dos amigos é fundamental nesse momento;

o Grande número de pessoas portadoras de transtorno do pânico não estão onde deveriam estar: nos consultórios dos psicólogos e/ou psiquiatras. É uma multidão de pessoas que não trata adequadamente de sua doença e prolonga o próprio sofrimento.

Ana Lúcia Pereira é Psicóloga Clínica, professora Universitária e Consultora Organizacional. Email: alp@analuciapsicologa.com - http://www.analuciapsicologa.com