Psicologia ou Psicologias: Por que sou psicólogo analista do
comportamento?
Por Eduardo T.S. Alencar
26/02/2009
O ingressar na graduação de psicologia, o aluno descobrirá que
trata-se de uma ciência nova em constante evolução, entretanto,
mantém sólida, firme e forte a preocupação e o compromisso com a
qualidade de vida do homem e suas relações com o mundo. Como toda
ciência, ela defende alguns métodos, filosofias e aspectos éticos
epistemologicamente coesos que compõe importantes e diferentes
vertentes teóricas que serão utilizadas na rotina deste profissional
ao realizar leituras, reflexões, intervenções e análises de homem e
mundo. Dentre as principais vertentes teóricas está a psicanálise de
Freud com “análise comportamental” determinada por estruturas
psíquicas e suas características conscientes e inconscientes, a
Fenomenologia de Hussel com “análise comportamental” compreendida no
existencialismo e modo de ser dos indivíduos e a Análise do
Comportamento de Skinner cuja “análise comportamental” dedica-se a
busca da raiz da conduta humana pela análise funcional das
contingências de reforçamento entre o homem e o ambiente.
Cada vertente com seus propósito, objetivos e características tem
seu incondicionável e inqüestionável valor na história, formação,
desenvolvimento e contribuições prestadas a ciência psicológica.
Demonstram compartilhar opiniões semelhantes e contrastantes sob
diversos fenômenos, saudavelmente aceitam sua condição de ciência em
evolução e abominam idéia de “verdade absoluta”, abominam futuros
profissionais que não assumam compromisso com seus valores éticos e
rigores metodológicos, o que conseqüentemente, colocarão o aluno
(futuro psicólogo) diante o impasse de escolher uma vertente teórica
para especializar-se, para empregá-la sob melhor respaldo acadêmico
e passível de condição supervisionada de psicólogos mais
experientes.
Esta escolha é multideterminada segundo pesquisas científicas
disponíveis em todo enredo científico (Scielo, por exemplo, não
sendo citado nenhum neste artigo pois o objetivo é destacar a
escolha pessoal do autor) pelas mais hipotéticas e comprovadas
relações: empatia com professores, domínio da abordagem pelo
docente, didática oferecida pelo docente, história de vida do aluno,
formação disposição de grade curricular em universidades, influência
de amigos, motivações, construção de afinidades, e assim por diante.
No meu caso, quando estava na graduação, ou seja, no mundo das
psicologias, percebi que ali era o momento de aprendizado, momento
único em que poderia entrar em contato com todas as vertentes
teóricas, momento que poderia fazer / expor minhas críticas,
dúvidas, sugestões, participar ativamente de produção de
conhecimento em projetos científicos e afins. Este momento ficou
registrado em minha vida (inconsciente como talvez diria a
psicanálise, vivenciado como talvez diria a fenomenologia e
reforçado como talvez diria a análise do comportamento).
Penso que minha escolha pela psicologia enviesada, ou mais
sutilmente, embasada pela “análise do comportamento” de Skinner
tenha sido realmente reforçada não apenas pelo fato de que todas as
minhas dúvidas, críticas e sugestões terem tido como conseqüências
imediatas a resposta adequada, minimamente razoável, satisfatória,
dotada de elogios, críticas construtivas, reconhecimento ou demais
variável a mercês de interpretações por parte dos leitores, que além
de ter tido de alguma forma maior controle de estímulos, ou
popularmente dito, maior afinidade com esta do que com as demais
vertentes e seu corpo docente, que provavelmente fui afetado e
submetido a esquemas de reforçamento intermitentes que me deixaram
resistente a frustrações teóricas e práticas, mas o mais importante,
é que encontrei nesta vertente a possibilidade de assumir e dividir
com o cliente parte do controle sobre os processos psicológicos, ou
seja, assumir que neutralidade não existe e que podemos ao mesmo
tempo em que respeitamos a individualidade e condição de sujeito
único (comparando ele com ele mesmo) parte do controle sobre as
contingências nem que seja controle verbal necessário para
intermediar mudanças mensuráveis aos olhos do terapeuta, do cliente
e das pessoas a sua volta.
Posso dizer de boca cheia, por já ter deixado retificado ao leitor o
meu respeito pelas vertentes teóricas que na minha história de vida,
após ter decidido a fazer parte do barco, a tornar-me um psicólogo,
mesmo que tenha escolhido uma abordagem, minha experiência ficou
marcada por ricas contribuições: a psicanálise é fascinante e com
sua “magia”, me ensinou a importância de explicar causas do
comportamento humano, a fenomenologia é humilde, me ensinou a
importância de compreender e contextualizar o comportamento humano,
mas só tive segurança para realizar intervenções sem isolamento das
etapas de explicação e compreensão na vertente da análise do
comportamento, aquela cuja raízes filosóficas pertencem a B.F.
Skinner.
Este texto está longe de fazer apologia de melhor ou pior vertente
teórica, afinal, julgamento de valores e verdade absoluta não
condizem com a condição de “Psicólogo”. Penso e compartilho que a
mensagem principal que quero deixar ao leitor é: Uma escolha por uma
vertente teórica só acontece quando o profissional tem segurança em
sua filosofia, metodologia, história, afins, quando ele consegue
pensar em uma prática explicativa, compreensível e interventiva
dentro daquilo que sua vertente compreende como tal, quando ele
consegue dar conta dos fenômenos sem recorrer a uma outra vertente
cuja visão de homem e mundo é divergente epistemologicamente da sua,
em função talvez da fuga de prosseguir com pesquisas para preencher
os gaps deixados pro importantes percussores teóricos que morreram
muito antes de deixar ciências prontas (ideologia certamente).
Nenhuma vertente teórica está pronta (nem sabemos se um dia estará),
entretanto, isso não é sinal verde para um mix teórico na prática
psicológica. Independente do campo (organizações, clinica, escola,
entre outros), ao me deparar com um psicólogo generalista,
encobertamente me permito refletir sobre a possível má formação ao
qual ele esteve exposto, embora este não seja o objetivo do artigo,
quero finalizar que sou hoje analista do comportamento não apenas
por todas as possibilidades teóricas que expliquem minha escolha,
mas pelo fato dela ter me escolhido. Achei e fui achado por uma
abordagem que permite e respeita diferenças teóricas, mas critica o
uso indevido dos arcabouços teóricos.
Atualmente exerço atividades no campo das organizações do trabalho,
mais especificamente no subsistema de recrutamento e seleção de
pessoal. É triste de se dizer, mas trata-se do campo onde os
psicólogos são mais confusos em termos de vertentes teóricas. Quanto
mais me deparo com mero aplicadores de técnicas (testes
principalmente) artificialmente formados, pois não conseguem sequer
responder criticas metodológicas ou hipotetizar alternativas que
fogem dos manuais agregados a caixa dos mesmos, mais tenho orgulho
de defender uma abordagem que em sua visão de homem e mundo investe
em pesquisas para melhor avaliação, explicação, compreensão e
intervenção sobre o comportamento humano. Reconheço que renomados
profissionais, colegas de outras vertentes fazem um trabalho digno e
comprometido com os mesmos valores que hoje me proponho a defender,
e com isso, seguimos o paradigma: psicologia ou psicologias? Na
minha opinião certamente psicologias e destas, prefiro a análise do
comportamento onde tenho espaço para criticar e ser criticado,
motivar (reforçar) e ser motivado (ser reforçado), respeitar e ser
respeitado. Devemos seguir aquilo que nos completa (aquilo que nos
reforça), devemos entender para ser entendido. Quando não se sabe
onde quer chegar, qualquer caminho que tomarmos estará em termos de
probabilidade suscetível ao erro, entretanto, traçar um caminho é
criar subsídio para o planejamento, para o sucesso, neste caso, o
sucesso profissional.
Eduardo Alencar é Consultor de RH de empresa líder na
comercialização de artigos esportivos em toda América Latina,
colunista de portais de psicologia e administração de empresas,
membro associado da ABPMC (Associação Brasileira de Psicoterapia e
Medicina Comportamental) desde 2004, possui formação técnica em
administração de empresas, graduação em psicologia pela UNINOVE/SP,
Pós graduação em Terapia Cognitiva e Comportamental pela USP,
Extensão universitária em Organizational Behavior Management e em
Acompanhamento Terapêutico pelo Núcleo Paradigma de Analise do
Comportamento/SP, Especialização em Grafologia pelo Instituto Paulo
Sérgio Camargo e cursa MBA em Gestão Empresarial pela UNIP/SP.