O Mundo é dos Otimistas
			Por Jerônimo Mendes
			11/01/2009
			
			
			Durante um bom tempo eu fui representante de vendas de uma grande 
			companhia, mas na prática eu era vendedor mesmo, com um título mais 
			simpático, carteira assinada e tudo o que tinha direito em termos de 
			benefícios. Segundo as diretrizes da empresa, era para enobrecer o 
			cargo e gerar mais respeito perante os clientes, como se a profissão 
			de vendedor não fosse nobre o bastante para merecer o respeito que o 
			mundo dos negócios atribui a ela.
			Eu mantinha uma rotina mensal de visitas com uma meta arrojada de 
			vendas a cumprir, burocracia até a raiz dos cabelos e aquele ar 
			superior de quem conseguiu um bom emprego numa grande corporação 
			capaz de prover todas as soluções para uma vida melhor, livre das 
			dificuldades, mas toda profissão tem os seus inconfundíveis 
			percalços.
			Um dos meus clientes era uma pessoa extremamente pessimista e eu 
			ficava remoendo diariamente se deveria visitá-lo e quanto tempo 
			deveria gastar com ele para me livrar o mais rápido possível de ser 
			contaminado pela suas dores e reclamações. O fato é que eu não tinha 
			como escapar do sujeito assim tão fácil e vez por outra eu deveria 
			enfrentar a realidade, porém todas as circunstâncias geram 
			aprendizado de alguma forma, desde que se saiba obter a leitura 
			correta e extrair algo proveitoso da situação.
			Numa dessas visitas eu sabia de antemão que o filho dele havia 
			passado no vestibular em Curitiba e imaginei encontrá-lo radiante, 
			talvez também tivesse raspado a cabeça para prestigiar o menino ou 
			ainda tivesse mandado matar para o banquete um daqueles carneiros 
			que rondavam o estabelecimento e ficavam o tempo todo comendo a 
			grama somente para ele não ter que desembolsar uns míseros trocados 
			para o jardineiro.
			E lá estava eu, senhor de si, tentando parecer animado, cheio de 
			amor e otimismo: - E então, seu Paulo, há quanto tempo, como tem 
			passado?
			Como todo bom cliente, ele não deixava por menos e o sermão estava 
			na ponta da língua: - Quanto tempo, digo eu! Esqueceram que eu 
			existo? Pensei que a empresa havia falido. Não me venha com 
			conversa, você sabe que eu ando muito mal das pernas, sem dinheiro, 
			olhe só pra mim.
			Fiel escudeiro de uma grande corporação, rapaz bem treinado, eu 
			insisti no assunto: - Que nada, seu Paulo, anime-se! O tempo 
			melhorou, as vendas estão reagindo, a chuva deu uma trégua, a 
			colheita agora sai, é questão de dias!
			Porém, o homem não deu o braço a torcer: - Isso é fogo de palha, não 
			vai dar em nada, daqui a pouco chove, vai por mim, minha coluna está 
			doendo um bocado e quando isso ocorre, pode escrever, é chuva na 
			certa.
			Eu continuei na minha, impassível, com aquela vontade incontrolável 
			de mandá-lo para algum lugar bem longe dali, mas agüentei firme, 
			pensei no meu emprego, na minha adorável esposa, nos meus lindos 
			filhos e, na mesma linha, perguntei serenamente: - E o filho, seu 
			Paulo, está contente? Soube que ele passou no vestibular, meus 
			parabéns!
			- Parabéns? Que parabéns, que nada! Isso é pura vadiagem. Veja só o 
			que ele me arranjou, mais quatro anos de despesas e dor de cabeça. 
			Isso se o bicho conseguir sair em quatro anos.
			Juro por tudo o que mais sagrado que daquele momento em diante eu 
			iniciei uma contagem regressiva e não via a hora de dizer adeus. 
			Depois de sair fiquei imaginando o tempo todo, enquanto fazia o 
			caminho de casa, o que leva uma pessoa a optar pelo sofrimento.
			A última notícia que eu tive dele é que estava acamado e deprimido. 
			O negócio havia falido há muito tempo. Infelizmente, nem o tempo foi 
			capaz de ensinar a ele a importância do otimismo e de uma atitude 
			mental positiva na vida das pessoas. Como dizia Napoleon Hill, autor 
			de A Lei do Triunfo, “a mão dura do destino tocou-lhe os ombros”.
			Existem pessoas que não conseguem dar um passo sem associar desgraça 
			ao mais simples acontecimento. São aquelas que passam pela vida, mas 
			não vivem a vida na sua plenitude. Algumas se mordem de raiva ao 
			menor sinal de sucesso alheio e outras se deliciam diante da 
			tristeza dos outros. Ambas conseguem bater nas suas costas e sorrir 
			com cara de compaixão disfarçada de hipocrisia.
			Provavelmente, essa história está ligeiramente associada a uma série 
			de acontecimentos, sentimentos, mágoas e rejeições carregadas desde 
			a mais tenra infância. Um caso como esse é algo tão pessoal e 
			delicado que somente o próprio ser humano, por sua livre e 
			espontânea vontade, pode mudar.
			Conviver com pessoas negativas ou pessimistas – no fundo são a mesma 
			coisa - é um exercício de paciência e ao mesmo tempo de 
			solidariedade. O cuidado que se deve ter é o de não se deixar 
			contaminar pelos problemas e aborrecimentos alheios. Olhe ao seu 
			redor e avalie rapidamente o número de pessoas que vivem 
			relativamente bem, tem carro à disposição, um excelente emprego, uma 
			boa casa, boa saúde, uma bela família e ainda assim insistem no 
			discurso da falta de sorte na vida. Algumas não conseguem manter 
			cinco minutos de conversa sem deixar de se lamentar. Como vai o 
			amigo? Vamos levando... Já escutou algo assim?
			Em casa, lembrei-me da antiga parábola dos cachorros, contada por um 
			velho índio e aqui remodelada a com a melhor das intenções. Dentro 
			de cada um de nós existem dois cachorros que discutem o tempo todo e 
			exercem importante papel em nossa vida: um deles se chama raiva e o 
			outro, compaixão. Intrigado, alguém se aproximou do índio e 
			perguntou: - amigo índio, qual dos dois é o mais forte e capaz de 
			ganhar a briga? É muito simples: aquele que eu alimento.
			Do episódio em questão eu quero compartilhar algumas lições com o 
			amigo leitor:
			1) Tudo na vida é aprendizado e as pessoas que cruzam o nosso 
			caminho, independentemente do seu estado de espírito, sempre tem 
			algo a nos ensinar. No caso dos pessimistas, basta fazer exatamente 
			o contrário;
			2) O mundo é dos otimistas. Os pessimistas morrerão falando mal de 
			tudo e de todos, portanto, afaste-se deles, demita-os da sua vida, 
			se necessário, e nunca permita que o negativismo alheio afete o seu 
			modo de pensar e agir;
			3) Dificilmente haverá espaço no mundo para pessoas que lamentam o 
			tempo todo em vez de contribuir para torná-lo mais humano, mais 
			alegre e menos violento;
			4) Torça pelos seus amigos, conhecidos ou desconhecidos, e reze 
			pelos inimigos; desejar-lhes o bem é uma ótima chance mudar o estado 
			de espírito e de afastar definitivamente o pessimismo da sua vida.
			Por fim, respire o otimismo em todas as suas realizações. Nenhuma 
			situação de desconforto é duradoura e todas as adversidades são 
			válidas para o crescimento pessoal e profissional. Como diz o 
			ditado: para o otimista, é difícil, mas é possível; o pessimista 
			possui o dom de inverter o raciocínio: é possível, mas é difícil. 
			Pense nisso e seja feliz!
			
			Jerônimo Mendes é Administrador, Consultor e Palestrante
			Autor de Oh, Mundo Cãoporativo! (Qualitymark) e Benditas Muletas 
			(Vozes)
			Mestre em Organizações e Desenvolvimento Local pela UNIFAE