A Maternidade depois dos trinta anos
			Por Sirley Bittú
			26/05/2003
			
			A maternidade é percebida por algumas mulheres como o início de um 
			novo ciclo, um marco diferencial que consagra de forma concreta a 
			abrangência do papel feminino, e talvez seja por isso que a 
			maternidade pode tornar-se uma dolorosa obsessão. Muitas mulheres 
			desenvolvem dentro de si o desejo de ser mãe. A maternidade após os 
			trinta é raramente um erro de cálculo ou obra do acaso, trata-se na 
			maioria das vezes de algo planejado, sonhado e muito desejado. 
			Algumas vezes torna-se um objetivo de vida. Condição para sentir-se 
			realizada no mundo.
			
			A revolução do papel da mulher na sociedade, e sua conseqüente 
			inserção no mercado de trabalho de forma cada vez mais competitiva, 
			modificou consideravelmente as características da mulher atual. É 
			claro que a liberdade sexual também ajudou, pois atualmente a mulher 
			pode escolher a maternidade desvinculando-a da relação sexual. 
			Historicamente somos herdeiras de uma educação onde o amor e o sexo 
			formavam um dueto inquestionável para uma mulher de boa índole, e o 
			prazer só era permitido relacionado com o sentimento mais sublime, o 
			amor, e desta forma mantinha-se uma visão da mulher comparável 
			apenas ao aspecto divino dos anjos, e não aos seres humanos.
			
			A mulher, faz parte da mesma espécie tanto como o homem, por mais 
			incrível que isso possa parecer para alguns, guardando obviamente 
			diferenças entre si, não apenas físicas, mas emocionais e culturais, 
			que se revelam em sua forma de se relacionar com o mundo. Os seres 
			humanos, - homens e mulheres portanto - sentem, desejam e são 
			capazes de amar de várias formas, cada um com suas peculiaridades.
			
			A mulher está aprendendo a buscar seus desejos, a ter projetos 
			outros além de casar e ter filhos. Com o desenvolvimento emocional e 
			cultural tanto da mulher como do homem e o aumento de sua 
			autoconsciência, a maternidade está deixando de ser manipulada à 
			vontade pelos controles sociais de natalidade, ou mesmo pelos 
			interesses políticos de alguns. O desejo feminino passou a ser mais 
			aceito e reconhecido, numa sociedade tradicionalmente patriarcal.
			
			Muitas dessas mudanças estão acontecendo, como resultado do 
			questionamento de fórmulas antigas e consagradas onde as idéias 
			sobre sexo, sexualidade, prazer e amor eram associadas à sujeira, 
			vergonha, medo, dor, repulsa e culpa. A mulher está tentando 
			aprender com os homens a separar amor e sexo, enquanto o homem 
			reciprocamente, tenta aprender a juntar as duas coisas.
			
			Temos obviamente ganhos e perdas com essa revolução social. As 
			dificuldades em estabelecer relações de intimidade, por exemplo, 
			tornaram-se favorecidas nesse contexto, uma vez que as diferenças 
			entre autonomia emocional e o medo de relacionamentos afetivos 
			possuem entre si uma tênue divisão.
			
			Um dos resultados dessa reorganização social, que podemos considerar 
			positivo, foi à maternidade estar tornando-se uma escolha cada vez 
			mais consciente.
			
			A maternidade após os 30 anos de idade passou a ser algo comum 
			dentro desse cenário, pois freqüentemente é uma opção de mulheres 
			que já construíram sua vida profissional e se sentem maduras e 
			preparadas emocionalmente para assumir tal responsabilidade.
			
			Com a gravidez tardia (na verdade não podemos pensar em hora certa, 
			ou tempo certo, mas em nossa hora ou nosso tempo...), surgem 
			dificuldades naturais do ponto de vista biológico. O corpo precisa 
			se adaptar à nova necessidade para dar conta dessa demanda. O 
			fantasma da infertilidade surge para muitos nesse momento quase como 
			o expiador de suas culpas.
			
			Aprendemos através do processo de autoconhecimento que a culpa surge 
			muitas vezes, da dificuldade em assumirmos as escolhas e as opções 
			que fazemos durante nossa vida. Ela é alimentada por inseguranças 
			internas, dificuldades em identificar nosso próprio
			tempo/ritmo, e é temperada por nossos medos e desconhecimentos de 
			nossos potenciais, tão necessários para lutar contra as dificuldades 
			que surgem em nosso caminho.
			
			Em sua evolução o ser humano está constantemente fazendo escolhas e 
			com isso rescrevendo sua história, adaptando sua espécie as suas 
			novas necessidades. Possuímos em nós um potencial criativo que nos 
			possibilita esta transformação. Precisamos talvez focar nossa 
			atenção aproveitando e direcionando essas mudanças, de forma a 
			permitir o florescer do melhor em nós, quem sabe assim o repensar 
			sobre o papel de ser mãe seja o início da revalorização da vida e 
			traga consigo o redimensionamento da agressividade humana e do amor, 
			como partes de um dueto que precisa reencontrar seu equilíbrio.
			
			
			Psicodramatista Didata Supervisora
			Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
			Consultório (11) 5083-9533 - Visite seu Site
			Email: sirley.regina@terra.com.br