As Famílias e os Novos Tempos
Por Sirley Bittú
09/01/2004
Os tempos são novos e com eles aumenta nossa necessidade de
aprimorar e rever nossos modelos.
Na família clássica tradicional o homem constituía a principal e
única fonte de renda, ele era o pilar, a estrutura da casa. Da
mulher esperava-se o zelo pelo lar e pelos filhos e a poucas era
permitido executar trabalho externo. A mulher mantinha com o passar
dos anos uma característica de dependência afetiva e financeira
tanto do marido como dos filhos.
O modelo emocional acompanhava esse padrão de agressividade e força
para o homem e passividade e fragilidade para a mulher.
Atualmente esses conceitos têm mudado consideravelmente. A
agressividade, principalmente em seu aspecto de impulso para a vida,
a determinação, a capacidade intelectual, a avidez para os negócios,
a produtividade e até mesmo a força física não são mais atributos
referidos apenas ao sexo masculino. Da mesma forma que a
generosidade, a força emocional, a capacidade de amar, a capacidade
de expressar sentimentos e emoções, não são mais vistos como
atributos essencialmente femininos.
A sociedade está gradativamente desenvolvendo a capacidade de
reconhecer esses atributos como necessidades para o auto
desenvolvimento pessoal, inerentes tanto aos homens como as
mulheres. Essa clássica divisão: homem forte / mulher frágil,
resultante de uma sociedade patriarcal não tem mais lugar nos dias
de hoje.
O desenvolvimento emocional e social da mulher colaborou para ela
assumir mais espaço na sociedade e com isso alterar nossas
concepções de família. Ao passo que as mulheres passaram a refletir
sobre seu papel no mundo de forma mais ampla, consequentemente o
alteraram significativamente.
Hoje a mulher trabalha fora e as tarefas do lar são cada vez mais
aceitas como algo que cabe a todos da casa e não apenas à parte
feminina da família. Apesar disso, é natural que ainda existam
muitas pessoas que não conseguem se adaptar a esses novos tempos
principalmente aquelas que tem nessas tarefas seus referenciais de
masculinidade ou feminilidade. Isso acontece porque algumas pessoas
se reconhecem, a partir do que fazem concretamente, entendendo essas
habilidades como únicas e com isso, perdendo a noção de seus
potenciais e possibilidades.
Na verdade o homem também mudou sua forma de agir, aprendeu a falar
de sentimentos, reclamar de tanta responsabilidade e passou a ter
coragem para assumir a própria fragilidade.
São mudanças radicais que interferem diretamente em nossas
concepções de família. Hoje temos novos parâmetros construídos
através da realidade social e cultural que estamos vivendo, esses
parâmetros mudam a forma como nos comportamos, mas não mudam o
essencial, o que une as pessoas em torno de uma instituição chamada
família.
Sempre ressalto em meus artigos que não podemos perder de vista que
o ser humano é um ser social, precisa estar em relação para se
desenvolver emocionalmente, aprender a lidar com as alegrias e com
as frustrações.
A família é nosso segundo útero, é nosso útero emocional. A partir
dela desenvolvemos nossas crenças e nossa visão de mundo. O
entendimento de tudo que vivemos, o filtro que usamos para
decodificar nossas vivências começa a ser construído a partir do que
aprendemos com as pessoas que estão diretamente envolvidas com nosso
desenvolvimento. Essa proximidade afetiva proporcionada pelo grupo
familiar, nos ensina a amar e a nos relacionar, e isto, me parece
ser imutável. Por mais que as pessoas reinventem seu "script" ou
troquem as funções que cada uma exerce dentro da família, ainda
continua sendo necessária a harmonia entre os papéis que cada um
desempenha, e sem dúvida continua sendo essencial o exercício do
amor, do respeito e da responsabilidade.
A família continua sendo, apesar de todas as mudanças que vivemos,
um lugar para desenvolvermos esses atributos e iniciarmos nossa vida
social de forma adequada e equilibrada.
Psicodramatista Didata Supervisora
Terapeuta em EMDR pelo EMDR Institute/EUA
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Email: sirley.regina@terra.com.br