Demência Degenerativa Primária Tipo Alzheimer
Por Ana Lúcia Pereira
10/06/2007
Definição:
A Doença de Alzheimer faz parte da categoria dos distúrbios
demenciais, um grupo de doenças cerebrais que leva a perda
progressiva das funções físicas e intelectuais, como por exemplo a
memória. Esse grupo é comumente conhecido pelo público leigo do
Brasil pelo termo “esclerose".
Esta doença não é parte normal do envelhecimento, ou seja, não
ocorre inevitavelmente com a idade, todavia as estatísticas oficiais
indicam que uma pequena porém significativa parcela da população de
idosos é afetada.
A minoria dos pacientes com a Doença de Alzheimer tem idade inferior
a 50 anos e a maior parcela tem mais de 65 anos. A incidência tende
a aumentar consideravelmente com a idade, sendo que 25% das pessoas
com mais de 85 anos têm Alzheimer ou outra demência grave.
O desenvolvimento dessa doença é geralmente muito lento e gradual,
raramente se iniciando antes dos 65 anos de idade e se tornando
progressivamente mais grave com o passar do tempo.
Etiologia:
A Doença de Alzheimer tem emergido como um dos grandes mistérios da
medicina nos dias atuais, com muitas hipóteses, mas sem conclusões
definitivas a respeito de suas causas.
O curso clínico da enfermidade é de inicio insidioso e deterioração
progressiva, sendo que a etiologia envolve os seguintes fatores:
a) Genéticos: existe uma incidência aumentada da Doença de Alzheimer
em membros de uma mesma família, o que sugere que possa existir uma
causa genética. Uma base hereditária foi identificada através da
descoberta de um marcador genético no cromossomo 21, em um pequeno
subgrupo de famílias, no qual a doença ocorre com freqüência em
idade relativamente precoce (antes dos 50 anos). Há evidências
implicando o cromossomo 19 em outras famílias, onde a doença se
desenvolve mais tardiamente. Há dados ainda que indicam que a
probabilidade de um parente próximo (irmão, filho ou pai) de uma
pessoa com a doença vir também a desenvolvê-la é baixa. Na maioria
dos casos, o risco é discretamente superior ao de qualquer outra
pessoa da população em geral (a probabilidade de se desenvolver a
Alzheimer durante a vida toda é inferior a 1%).
b) Anormalidades cromossômicas: se observam anormalidades
cromossômicas que podem ser decorrentes de fatores genéticos, virais
ou tóxicos primários. O fator causal destas anormalidades não foi
esclarecido.
c) Imunológicos: existem anticorpos autógenos, ou seja, reativos
contra o próprio cérebro, associados à enfermidades cerebrais.
d) Infecções: a enfermidade de Creutzfeld Jakob, uma encefalopatia,
assemelha-se à enfermidade de Alzheimer.
e) Anormalidades neuroquímicas: pesquisas revelam a existência de um
déficit colinérgico central e alterações no metabolismo
noradrenérgico.
Sintomas:
Problemas de memória envolvendo fatos recentes, discretas alterações
de personalidade, menor espontaneidade, apatia e tendência a se
esquivar de contatos sociais são comuns no começo da doença.
A medida que a doença progride surgem dificuldades de pensamento
abstrato ou redução do desempenho intelectual, sendo que a pessoa
pode começar a ter dificuldade com cálculos numéricos, com a
compreensão de textos ou com a organização de sua rotina diária de
trabalho.
Outras alterações comportamentais e na aparência podem ser
observadas, como agitação, irritabilidade, teimosia e redução da
capacidade de se vestir adequadamente.
Em estágios mais avançados, o paciente torna-se confuso ou
desorientado em relação ao tempo e espaço, não reconhecendo
adequadamente os familiares. É comum começar a divagar, tornando-se
incapaz de estruturar uma conversa, mostrando-se desatento, não
cooperativo e com bruscas alterações de humor.
Nos casos em que o estágio final é atingido a pessoa torna-se
totalmente incapaz de cuidar de si própria, sendo comum apresentar
incontinência urinária e fecal.
A causa mais provável da morte é pneumonia ou outros problemas que
ocorrem em estados de grave deterioração de saúde.
Depressão e delírio podem agravar o quadro do paciente. Esses
problemas, que surgem em alguns pacientes durante a evolução da
doença, associam-se à deterioração da memória; eles tomam o
desempenho do paciente pior do que seria esperado em um quadro
demencial isolado, causando condições clínicas referidas como
estados de extrema incapacitação.
Quando associada à demência, a depressão piora a incapacitação e o
sofrimento do paciente com Doença de Alzheimer. Nestas situações é
imprescindível tratar o quadro depressivo, o que costuma produzir
uma melhora clínica real, mesmo que a doença de base esteja em
progressão.
A duração média da doença, desde o início das manifestações até a
morte, é de cerca de 6 a 8 anos, mas pode variar de menos de 2 a
mais de 20 anos. As pessoas que desenvolvem a Doença de Alzheimer
tardiamente podem morrer de outras causas (como doenças cardíacas),
antes que seja atingido um estágio mais grave ou terminal.
Diagnóstico:
O diagnóstico da enfermidade de Alzheimer não pode ser feito
clinicamente, visto que faz-se necessário corroboração
neuropatológica, já que existe uma incidência aumentada de sintomas
focais do lobo parietal (disfasias, apraxias, disgrafias e
acalaculia ).
Os critérios de Diagnóstico para Demência Degenerativa Primária do
Tipo Alzheimer consideram as três características clínicas da
doença, de além das alterações morfológicas:
A) Demência: redução significativa das funções intelectuais, como
memória em grau que interfira na interação social ou nas atividades
habituais da pessoa;
B) Aparecimento insidioso dos sintomas, com progressão lenta,
gradual e irreversível, comprovada pela deterioração mental, com o
passar do tempo.
C) Exclusão de todas as outras causas especificas de demência, pela
história clínica, exame clínico geral minucioso, exame neurológico,
exames laboratoriais, avaliação psiquiátrica ( que pode incluir
testes psicológicos ou psicométricos) e outros métodos eventualmente
disponíveis.
Assim, o diagnóstico de Alzheimer é definido como um diagnóstico de
exclusão, que só pode ser confirmado pela deterioração clínica do
paciente, com o passar do tempo.
Não existem ainda exames clínicos ou laboratoriais específicos para
a doença, consequentemente todas as doenças que possam produzir
sintomas semelhantes tem que ser sistematicamente excluídas. Esta
doença tem sido diagnosticada equivocadamente em idosos, exatamente
em função de muitos outros distúrbios mentais apresentarem sintomas
semelhantes. A diferença fundamental reside no fato de que muitos
desses distúrbios, ao contrário da Doença de Alzheimer, podem ser
interrompidos ou aliviados.
Entre os distúrbios mentais orgânicos que podem produzir problemas
clínicos semelhantes aos da Doença de Alzheimer, mas que podem ser
revertidos ou controlados com diagnósticos e tratamento adequado,
incluem os seguintes :
-Efeitos colaterais medicamentosos: reações inesperadas a
medicamentos, doses excessivas ou insuficientes dos medicamentos
prescritos, interações medicamentosas.
-Abuso de drogas: abuso de drogais legais e ou ilegais ou álcool.
-Distúrbios Metabólicos: problemas de tireóide, deficiências
nutricionais, anemias, etc.
-Distúrbios Circulatórios: problemas cardíacos, derrame, etc.
-Distúrbios Neurológicos: hidrocefalia de pressão normal, esclerose
múltipla, etc.
-Infecções: especialmente infecções cerebrais produzidas por vírus
ou fungos.
-Trauma: traumatismo cranianos.
-Fatores tóxicos: monóxido de carbono, álcool metílico, etc.
-Tumores: qualquer tipo de tumor intracraniano, tanto primário como
metastático.
Tratamento
Não existe qualquer droga ou fármaco efetivo para o tratamento dos
deficits, estes recursos podem ser úteis apenas para a correção das
disfunções neuroquímicas.
É de fundamental importância que o tratamento inclua orientação
familiar para o manejo comportamental do paciente, incluindo terapia
comportamental e avaliação da possibilidade da utilização de
recursos ambientais presentes na própria família e na comunidade.
A tensão familiar pode representar um peso tanto para o paciente
como para seus familiares e amigos, que são, geralmente,
responsáveis pelos cuidados com o paciente. Com o tempo e o
agravamento da doença, a situação não só põe em risco a saúde mental
dos cuidadores, como também reduz a capacidade de prover o cuidado
necessário ao familiar com a Doença de Alzheimer. Desta forma,
deve-se considerar a assistência à família como um todo. A medida
que a doença progride, aumentam a ansiedade e o sofrimento dos
familiares ao assistirem a modificações perturbadoras em um ente
querido, e eles, em geral, sentem-se culpados ao constatar sua
impotência perante a situação. A prevalência de depressão reativa
entre os familiares é significativamente elevada.
Os recursos de intervenção podem abranger desde grupos de apoio
familiar em associações de familiares de pacientes com a Doença de
Alzheimer e auxílio profissional para o paciente e familiares, como
um especialista em saúde mental, até programas comunitários
hospital-casa ou clínicas especializadas.
Dois pontos críticos devem ser considerados na abordagem terapêutica
da Doença de Alzheimer:
-reconhecimento da mesma como um distúrbio distinto do processo
normal de envelhecimento;
-percepção de que, no desenvolvimento de intervenções terapêuticas e
sociais para uma doença ou incapacitação grave, o conceito de
cuidados gerais pode ser tão importante quanto o da cura.
O ambiente do paciente também pode interferir no desempenho do
mesmo, influenciando no nível de deterioração clínica. Modificações
ambientais podem diminuir o estresse desencadeado por determinadas
situações. Há ainda aspectos relativos à segurança, como a
necessidade de proteger o paciente de acidentes domésticos, como
cair de escadas.
Deve-se também tentar reduzir os níveis de frustração do paciente
através colocando-se lembretes ou indicações em seu ambiente, para
compensar a perda de memória e diminuir o estresse e a
desorganização resultantes. É aconselhável tomar o ambiente o mais
seguro e menos restritivo possível, o que, em determinada época,
pode requerer a mudança da casa para uma clínica ou outro lugar com
infraestrutura adequada para se lidar com pessoas com a Doença de
Alzheimer. Embora a Doença de Alzheimer não possa ainda ser curada,
revertida ou interrompida, muito se pode fazer para auxiliar tanto o
paciente como a sua família a viver com maior dignidade e menor
desconforto durante todo o percurso da doença. Para que atinjam tais
objetivos, intervenções clínicas adequadas serviços comunitários
devem ser procurados.
Bibliografia:
CID 10
DSM-IV
Anotações de aula disciplina Psicopatologia Geral – Curso Psicologia
– USJT
Ana Lúcia Pereira é Psicóloga Clínica, professora Universitária e
Consultora Organizacional. Email: alp@analuciapsicologa.com -
http://www.analuciapsicologa.com