O Dedo Podre
Por Jorge Antônio Monteiro de Lima
16/07/2010
Boate e balada! Casa noturna cheia. Mais de 5 mil freqüentadores.
Espaço sobreposto a cotovelada e pisão no pé. Na noite, centenas de
rapazes e moças disponíveis na caça. Com quem vou ficar hoje? Será
que vou encontrar meu grande amor? Ela ali, vai toda produzida
tentar-se a tentar. Olhares, dança,tudo tornando o corpo em vitrine.
Mas na lei de Murphy e da vida, ela acaba sendo atraída no meio da
multidão pelo que menos deveria gostar: o estelionatário posando de
milionário clonando cartão de crédito ou o pequeno agressor egoísta
que vai lhe pisar no calo durante os dois próximos anos. Por que seu
desejo lhe trai?
Dedo podre é quem gosta de andar mal acompanhado para não ficar só,
quem gosta de viver de migalhas quando a temática envolve
relacionamentos, é quem vive em um masoquismo, acreditando que amor
é sofrimento . Dedo podre traduz a falta de amor próprio, a
necessidade de sofrer para sentir-se vivo, o autoboicote advindo de
péssimas escolhas afetivas.
Quase todo mundo com dedo podre acha o seguinte: "Um dia ela vai
mudar";
"Comigo vai ser diferente"; "Ele me trata mal porque no fundo gosta
de mim"; enfim, a pessoa, além de se boicotar, acaba bancando a
cega, negando perceber os defeitos alheios, em um intenso processo
de racionalismo no qual sempre tem uma desculpa, justificativa para
suas ações e escolhas erradas ou sempre um álibi para quem o
tortura. Será que isto traduz o que poderíamos chamar de gostar de
sofrer?
A falta de amor próprio por vezes é tão interessante que muitos
indivíduos acreditam piamente que só atraem parceiros errados por
azar. Mais uma desculpa. Todavia o autoboicote enraizado no
inconsciente afasta pessoas boas, parceiros ideais, o verdadeiro
amor e o romance com final feliz.
Outra forma de viver com o dedo podre é o convívio intenso com quem
não presta, com quem só faz asneira. Sabe aquele seu amigo que já
capotou o carro oito vezes? Você vai deixá-lo dirigir seu carro? Vai
pedir pro "chegado" totalmente enrolado com dívidas pra retirar o
dinheiro em sua conta, lhe informando sua senha? Você vai realmente
pedir conselho afetivo pra sua amiga encalhada que não dá certo com
ninguém? Dedo podre é falta de consciência crítica aliada ao
autoboicote, traduz a vida instintiva em armadilhas criadas pela
própria pessoa, negando a si mesma uma vida tranquila.
Muitas pessoas, por não saberem falar não, por terem dificuldade em
colocar limites, acabam criando armadilhas intensas na vida, sempre
refletindo a falta de amor próprio e autocuidado. Pecando por
omissão, por negligencia, por apatia frente à própria vida, depois
de entrar em um problema por convívio negando ainda sua própria
responsabilidade frente a sua ação errada, normalmente projetando no
outro toda culpa por sua falta de amor próprio e autoboicote.
Lembrei de um rapaz indignado que conheci que reclamava da sorte na
vida afetiva. Para ele toda mulher era ordinária. O mesmo rapaz só
se sentia interessado em se envolver com prostitutas. Dizia que elas
escolhiam essa vida por necessidade. Ele sempre era vítima de alguém
que não presta, que o iludia e depois o detonava. Outro exemplo foi
o citado no inicio deste artigo. Quantas mulheres são atraídas por
este tipo que faz tão bem o estereotipo do milionário sem emprego ou
o estilo Badboy de periferia?
Para mudar esse tipo de atitude é necessária uma reformulação de
toda estrutura afetiva, começando pelo inconsciente. Um trabalho que
exige esforço, mas que tem sua recompensa. O individuo deve
primeiramente rever o que representa para ele sua forma de amar.
Depois perceber sua estrutura interna de autoboicote e a reverter
com a ajuda de um profissional.
Jorge Antônio Monteiro de Lima é pesquisador em saúde mental,
Psicólogo e musico Consultor de Recursos Humanos Consultoria para
projetos de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais
email: contato@olhosalma.com.br - site:www.olhosalma.com.br