Bulimia Nervosa na Infância e Adolescência
Por Eliane Pisani Leite
25/07/2007
Bulimia Nervosa é uma síndrome (um distúrbio alimentar) caracterizada por
ataques repetidos de hiperfagia (consome grande quantidade de alimentos e de
preferência, alimentos hipercalóricos) e preocupação excessiva com o controle de
peso corporal, o que leva o paciente a adotar medidas extremas para não
engordar, como vômitos auto-induzidos após a ingestão de alimentos, abuso de
purgantes e períodos alternados de inanição.
Características que sinalizam a Bulimia Nervosa
Interrupção da menstruação;
consumo de grandes quantidades de comida em um curto período de tempo seguido
por vômitos, divido a um forte sentimento de culpa. O medo de engordar leva a
vômitos provocados ou auto-induzidos, geralmente realizados às escondidas, numa
freqüência mínima de duas ou mais vezes por semana, trazendo numa sensação de
alívio à paciente.
O interesse por rituais alimentares;
Obsessão por exercícios físicos; a presença de depressão grave e o comer
escondido como prática comum.
Ingestão compulsiva e exagerada de alimentos;
Alimentação excessiva sem ganho de peso; a auto-indução de vômitos e abuso de
laxantes e diuréticos.
Alguns bulímicos tem problema de dependência de drogas e alcool e de furto
compulsivo (cleptomania).
Sinais Físicos da Bulimia Nervosa
O vômito auto-induzido pode provocar erosão esofagiana (esofagite de refluxo) e
aumentar as glândulas paratirótidas (deixando as feições das pacientes
arredondadas, com aspecto de 'lua cheia'), assim como diminuir a taxa de
potássio no sangue, causando ritmo cardíaco anormal.
Fisicamente também podem apresentar calosidade no dorso da mão (ação de levar o
dedo à boca provocando vômito) conhecida por 'sinal de Russell', desgaste
dentário e conseqüente presença de cáries em razão do suco gástrico.
Tipos de Bulimia Nervosa
Os seguintes subtipos podem ser usados para especificar a presença ou ausência
regular de métodos purgativos como meio de compensar uma compulsão periódica:
Tipo Purgativo: Este subtipo descreve apresentações nas quais o paciente se
envolveu regularmente na auto-indução de vômito ou no uso indevido de laxantes,
diuréticos ou enemas durante o episódio atual.
Tipo Sem Purgação: Este subtipo descreve apresentações nas quais o paciente usou
outros comportamentos compensatórios inadequados, tais como jejuns ou exercícios
excessivos, mas não se envolveu regularmente na auto-indução de vômitos ou no
uso indevido de laxantes, diuréticos ou enemas durante o episódio atual..
Transtornos Associados
Os pacientes com Bulimia Nervosa tipicamente estão dentro da faixa de peso
normal, embora alguns possam estar com um peso levemente acima ou abaixo do
normal. O transtorno ocorre, mas é incomum, entre pacientes moderada e
morbidamente obesos.
Há indícios de que, antes do início do Transtorno Alimentar, os pacientes com
Bulimia Nervosa estão mais propensos ao excesso de peso do que seus pares. Entre
os episódios compulsivos, os pacientes com o transtorno tipicamente restringem
seu consumo calórico total e selecionam preferencialmente alimentos com baixas
calorias (diet) evitando alimentos que percebem como engordantes ou que
provavelmente ativarão um ataque de hiperfagia.
Os pacientes com Bulimia Nervosa apresentam uma freqüência maior de sintomas
depressivos (por ex., baixa auto-estima, insegurança) ou Transtornos do Humor
(particularmente Transtorno Distímico e Transtorno Depressivo Maior). Em muitas
ou na maior parte dessas pessoas, o distúrbio do humor começa simultaneamente ou
segue o desenvolvimento da Bulimia Nervosa, sendo que com freqüência atribuem
sua perturbação do humor à Bulimia Nervosa. Também pode haver maior freqüência
de sintomas de ansiedade (por ex., medo de situações sociais) ou Transtornos de
Ansiedade. Esses distúrbios do humor e de ansiedade comumente apresentam
remissão após o tratamento efetivo da Bulimia Nervosa.
Em cerca de um terço dos pacientes com Bulimia Nervosa ocorre Abuso ou
Dependência de Substâncias, particularmente envolvendo álcool e estimulantes. O
uso de estimulantes freqüentemente começa na tentativa de controlar o apetite e
o peso. É provável que 30 a 50% dos pacientes com Bulimia Nervosa também tenham
características de personalidade que satisfaçam os critérios para um ou mais
Transtornos da Personalidade (mais freqüentemente Transtorno da Personalidade
Borderline).
Evidências preliminares sugerem que os pacientes com Bulimia Nervosa, Tipo
Purgativo, apresentam mais sintomas depressivos e maior preocupação com a forma
e o peso do que os pacientes com Bulimia Nervosa, Tipo Sem Purgação.
Causas
Pouco se conhece a respeito das causas da Bulimia Nervosa. Possivelmente exista
um modelo onde múltiplas causas devem interagir para o surgimento da doença,
incluindo aspectos socioculturais, psicológicos, individuais e familiares,
neuroquímicos e genéticos.
Influência cultural tem ido apontada, atualmente, como um forte desencadeante; o
corpo magro é encarado como símbolo de beleza, poder, autocontrole e
modernidade. Desta forma a propaganda dos regimes convence o público de que o
corpo pode ser moldado. Assim, a busca pelo corpo perfeito tem se manifestado em
três áreas: nutrição/dieta, atividade física e cirurgia plástica. Nos EUA o
números de lipoaspiração passou de aproximadamente 55.900 casos em 1981 para
101.000 em 1988.
Distúrbio da interação familiar, eventos estressantes relacionados à sexualidade
e formação da identidade pessoal são apontados como fatores desencadeantes ou
mantenedores da bulimia. Postula-se que alterações de diferentes
neurotransmissores podem contribuir para o complexo sintomático, notadamente dos
mesmos neurotransmissores envolvidos na depressão emocional.
Grupos de Incidência
A taxa de prevalência da bulimia nervosa é de 2 a 4% entre mulheres adolescentes
e adultas jovens. A grande maioria dos pacientes com bulimia nervosa é do sexo
feminino, na proporção de 9:1. O início dos sintomas vai dos últimos anos da
adolescência até os 40 anos com idade média de início por volta dos 20 anos.
Algumas profissões em particular parecem apresentar maior risco, como é o caso
dos jóqueis, atletas, manequins e pessoas ligadas à moda em geral, onde o rigor
com o controle do peso é maior do que na população geral. Semelhante à anorexia
nervosa. Aspectos socioculturais são importantes na medida em que a doença
parece também mais comum em classes econômicas mais elevadas.
Tratamento
A grande maioria dos pacientes bulímicos deve ser tratada em nível ambulatorial,
exceto nos casos onde o desequilíbrio metabólico exige uma intervenção mais
intensiva. É interessante o tratamento ambulatorial pois, em geral, os pacientes
são mulheres jovens estudantes ou com empregos, donas de casa e com filhos
pequenos, onde o afastamento seria prejudicial.
Quando necessária, a internação ocorre por complicações associadas como:
depressão com risco de suicídio, perda de peso acentuado com comprometimento do
estado geral, hipopotassemia seguida de arritmia cardíaca e nos casos de
comportamento multiimpulsivo (abuso de álcool, drogas, automutilação,
cleptomania, promiscuidade sexual).
A psicoterapia pode ser de linha cognitiva e/ou comportamental e deve ajudar o
paciente no entendimento dos seus aspectos dinâmicos assim como orientá-lo em
questões práticas, por exemplo: planejando antecipadamente os horários quanto às
atividades e refeições; tentar comer acompanhado; não estocar alimentos em casa;
pesar-se apenas na consulta médica, etc.
Os antidepressivos têm demonstrado maior eficácia na diminuição dos episódios
bulímicos.
Eliane Pisani Leite - Autora do livro: Pais EducAtivos
Pisicologia Acupuntura Psicopedagogia - pisani.leite@terra.com.br